Sopa de letras

É fim de mês. Restam poucas figuras de estilo no armário da cozinha. Ontem mesmo, estive no balcão do português. Paguei com uma redação pré-datada. O "portuga" assegurou que a redação estava excelente, apesar dos vinte erros de concordância. Trouxe um pouco de ironia.

No choro do vento, continuo consumindo muita prosopopéia, ou personificação, apesar do preço abusivo cometido pelo português.

Antigamente, comprava quilos e quilos de hipérbole. Um exagero. Mas quem tudo quer, nada tem. Hoje só me resta um pouco de antítese.

Semana que vem faço a compra do mês. Já estão na lista os produtos de primeira necessidade: metáfora (alimento preferido do nosso presidente), eufemismo, perífrase e gradação.

Talvez traga também metonímia e catacrese. São produtos supérfluos, eu sei. Mas quem nunca conjugou que atire o primeiro verbo.

Autopsicografia
Fernando Pessoa
Cancioneiro

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Se eu fosse sertanejo...

...tocaria viola, fumaria cigarro de palha, assistiria Mazzaropi.

Teria como mestres: Almir Sater, Renato Teixeira, Inezita Barroso.

Se eu fosse sertanejo, moraria lá no pé da serra. Ouviria na vitrola os discos de Pena Branca e Xavantinho, Tião Carreiro e Pardinho, Mandi e Sorocabinha, Barreto e Barroso, Tonico e Tinoco.

Se eu fosse sertanejo, na minha quermesse só tocaria moda de viola.

Se eu fosse sertanejo, eu seria Rolando Boldrin.

Aproveitando que hoje é seis do seis de dois mil e seis, relembro aqui um "post" que escrevi em dois de novembro de dois mil e um, no moribundo blog "ecos do caos":

Ao visitante 666...

Seria interessante se tivesse vindo numa sexta-feira 13, ou no halloween. Mas se vier hoje, no dia dos mortos, também terá chegado em boa hora.
Alguns blogs oferecem prêmios ao visitante número 1000, eu ofereço ao número 666.
E como prêmio, o macabro porém ilustre visitante, receberá o disco: Festa do Estica e Puxa, da Xuxa. No trecho da música: "E todos dançam pega, estica e puxa ... e viva a festa da Xuxa", ao girar ao contrário, escuta-se "Ae Generuna, Satanás 90". Dizem que é uma mensagem do cão chupando manga.
O vencedor poderá reclamar seu prêmio na encruzilhada, perto do cemitério, numa meia-noite de lua cheia.