domingo, janeiro 30, 2005



Por que não ser também um chato?

Sempre sofri o ataque inesperado do primo chato, do amigo chato, do chato ocasional que nem espera ser apresentado.
E queria saber como (na certa querendo ser simpático) teria ele chegado à solidão da chatidão.

Mas de repente me percebi sem ser doutor, que a chatice é a única doença que não dói no portador. E resolvi ser chato.
Desfaço agora com o máximo desdém de quem tem e de quem não tem. Sei ser blasê diante da maior obra de arte. E no teatro, ao começar a interpretação, eu, zás!, me viro de costas para comentá-la com o sujeito de trás.

Falo alto na igreja e baixinho diante dos que ouvem mal. Bocejo de tédio quando alguém me olha e me visto sempre de maneira imprópria para a ocasião.

Quando me falam de livro, respondo - "E as mulheres, como vão?"
Nunca ouço o que dizem, falo sempre de mim mesmo, não respeito compromissos e troco nomes a esmo.

Ah, ser chato é muito diferente de suportar um chato. Suportar é quase doloroso. Mas sê-lo é delicioso!
E o que é melhor, amigo, todos os chatos evitam tratar comigo.

(Poeminha maçante - por Millôr Fernandes em "Papáverum Millôr")

quinta-feira, janeiro 27, 2005



Drama de bolso - semáforo

Sinal vermelho, paro o carro. No rádio, uma velha canção de Luiz Melodia: "O pôr do Sol / Vai renovar brilhar de novo seu sorriso / e liberta da areia preta e do arco-íris / cor de sangue, cor de sangue, cor de sangue / cor de sangue".

Ao meu lado, um carro prateado. Da janela, observo que sou observado pela bela morena do carro prateado, dona de grandes olhos verdes.

Um sorriso tímido é retribuído. O sol ofusca nossos olhares. Estendo a mão para esconder o brilho do sol. Seus olhos verdes escondem algo que não consigo decifrar. Os segundos são eternos.

Ela acena em gesto de despedida. As despedidas tem um gosto amargo de abandono. O nó no peito me entristece.

Sinal verde. Poderíamos ter sido felizes. Sonhos desfeitos por buzinas de carros apressados. Do retrovisor, um senhor gesticula em minha direção.

Tínhamos tanta coisa em comum. Qual seria sua canção favorita? Seu perfume? Seus filmes prediletos? Seus olhos verdes me diziam tanto e não me diziam nada.

O motor do carro pára. Meu coração parecia ter parado também. Os carros desviam-se do meu, em disparada.

Sinal amarelo e vermelho de novo. O dia fica sem poesia.

O carro prateado havia partido, levando os olhos verdes consigo.

Consigo ligar o carro. Sinal verde de novo. A cidade é gigantesca, tenho muitos semáforos para encontrar aqueles olhos verdes novamente.

terça-feira, janeiro 25, 2005



São Paulo foi feita para você

Visitar o MASP, correr no Ibirapuera, tomar café-da-manhã na padaria, torcer no Pacaembu, atravessar bem a esquina da Ipiranga com a São João, sair de casaco de manhã, tirar na hora do almoço, morrer de calor à tarde e à noite colocar o casaco de novo, ver as vitrines da Oscar Freire, comer sanduíche de mortadela no Mercadão, conhecer a moda descolada da Galeria Ouro Fino, comprar flores no Largo do Arouche, reclamar do trânsito, comprar CDs na Galeria do Rock, comer pizza, passar a tarde na Guarapiranga, assistir aos filmes cabeça da Mostra de Cinema.

Rezar para chover e logo em seguida rezar para parar de chover, comer sushi na Liberdade, conferir as mostras do MAM, descobrir que gosto tem o churrasquinho grego, ir a um boteco na Vila Madalena, assistir a um concerto na Sala São Paulo ou a um balé no Municipal, visitar a Pinacoteca do Estado, babar em um sofá na Gabriel Monteiro da Silva e acabar comprando na Teodoro Sampaio, se benzer na Igreja da Penha.

Se acabar de dançar em uma boate na Vila Olímpia, assistir ao desfile das escolas de samba, curtir a noite, revirar as lojas da 25 de março, ir ao Jockey e não apostar nada, ir ao Mosteiro São Bento e assistir à apresentação de canto gregoriano, assistir a uma corrida no autódromo de Interlagos, andar de bicicleta no Minhocão, pedir pastel e caldo-de-cana na feira, ver as luzes da cidade do alto do Terraço Itália, conhecer o Pátio do Colégio, lugar onde tudo começou, namorar no Horto Florestal, comprar chás milagrosos no Largo da Batata, participar da São Silvestre, fazer umas comprinhas no Bom Retiro.

Ficar espantado com o tamanho do Copan, caminhar no Parque do Carmo, ir ao shopping, ver as antiguidades da Praça Benedito Calixto e dizer que não tema nada para fazer nesse feriado mesmo sabendo que tem tanta coisa para fazer na cidade.

Uma homenagem aos 451 anos de São Paulo - Anúncio da África para o Itaú.

domingo, janeiro 23, 2005



The Wonder Years Soundtrack

A LaserLight digital lançou em 1994 um box set com 5 cd´s contendo boa parte da trilha sonora da série "The Wonder Years". Um membro da comunidade sobre o seriado no Orkut, disponibilizou para download os cinco álbuns que fazem parte desse box.

São eles "First Love", "Good Times, Good Friends", "Cruisin", "Party Time" e "Movin'On". Apesar da caixa ser incompleta, é um verdadeiro presente para todos aqueles que acompanharam (ou ainda acompanham) o seriado, ou simplesmente são amantes das músicas que embalaram o final dos anos sessenta e início dos anos setenta.

Destaques para o tema de abertura "With A Little Help From My Friends" dos Beatles, regravado por Joe Cocker e "My Girl" dos The Temptations, música que serve de trilha para as chamadas da série. Há ainda o blues de Muddy Waters, o rock and roll de Chuck Berry, o auge dos The Jackson 5, e também Eric Burdon & The Animals, The Platters, Smokey Robinson & The Miracles, Donovan entre outros.

Como nem tudo é perfeito, faltaram The Byrds, Percy Sledge, The Beatles, The Monkees, Steppenwolf, The Doors, Bob Dylan, Simon & Garfunkel, que também fizeram parte da trilha sonora.

As cinqüenta músicas já estão no meu "Playlists". E uma boa dica para conferir quais foram as músicas que tocaram nos 115 episódios de "The Wonder Years", é acessar o Whiplash.

E para quem quiser baixar as músicas, as dicas encontram-se na comunidade
Anos Incríveis

sábado, janeiro 15, 2005



Estava à toa na vida, mas não vi a banda passar

Eis que me encontro na estrada, procurando um lugar para refúgio.
Uma placa indica: "Bem-vindo a 2005".

- "2005? Que lugar é esse?"

Sem encontrar respostas, ou alguém que pudesse me dar algum tipo de informação, resolvo seguir adiante. O que me espera nesse novo e indecifravél lugar, somente seguindo adiante. Mas algo me diz, que aqui aonde me encontro agora, as coisas estão acontecendo lentamente. Uma nova placa, me informa que 2005 começa mesmo depois de "carnaval".

- "Carnaval? Já estive nesse lugar antes e definitivamente é um lugar que não gostaria de estar. Vou ver se encontro algum atalho e encontro 2005 por outras estradas..."