quinta-feira, janeiro 27, 2005
Drama de bolso - semáforo
Sinal vermelho, paro o carro. No rádio, uma velha canção de Luiz Melodia: "O pôr do Sol / Vai renovar brilhar de novo seu sorriso / e liberta da areia preta e do arco-íris / cor de sangue, cor de sangue, cor de sangue / cor de sangue".
Ao meu lado, um carro prateado. Da janela, observo que sou observado pela bela morena do carro prateado, dona de grandes olhos verdes.
Um sorriso tímido é retribuído. O sol ofusca nossos olhares. Estendo a mão para esconder o brilho do sol. Seus olhos verdes escondem algo que não consigo decifrar. Os segundos são eternos.
Ela acena em gesto de despedida. As despedidas tem um gosto amargo de abandono. O nó no peito me entristece.
Sinal verde. Poderíamos ter sido felizes. Sonhos desfeitos por buzinas de carros apressados. Do retrovisor, um senhor gesticula em minha direção.
Tínhamos tanta coisa em comum. Qual seria sua canção favorita? Seu perfume? Seus filmes prediletos? Seus olhos verdes me diziam tanto e não me diziam nada.
O motor do carro pára. Meu coração parecia ter parado também. Os carros desviam-se do meu, em disparada.
Sinal amarelo e vermelho de novo. O dia fica sem poesia.
O carro prateado havia partido, levando os olhos verdes consigo.
Consigo ligar o carro. Sinal verde de novo. A cidade é gigantesca, tenho muitos semáforos para encontrar aqueles olhos verdes novamente.