domingo, julho 02, 2006

Eu quero me ver no ano de 2046

Corre o fim do outono e o início do inverno de 2006. Meu primeiro fio de cabelo branco desponta e me desaponta ao fixar os meus olhos no espelho.
É apenas um fio, mas ele nunca vem sozinho. Logo serão alguns, depois serão milhares.
Esse fio me fez refletir sobre o futuro. Ah, o futuro! Um lugar obscuro, que estou por um fio.
Parafraseando Antônio Marcos, eu quero me ver no ano de 2046.

É um ano qualquer, que estarei eu e os meus cabelos brancos, e a memória cheia de "brancos", relembrando o tempo que passou: no tempo em que eu blogava, o primeiro brasileiro que foi para o espaço (como era mesmo o nome dele?), as antigas televisões de plasma (acredita nisso?), carros movidos a biodiesel, e um amontoado de tecnologias ultrapassadas.
Mas pode ser que meus cabelos brancos já nem estejam me acompanhando. Numa determinada fase da vida eles também resolvem partir.

Meu fio de cabelo branco é quase que uma testemunha ocular da história (pelo menos da história da minha vida).
É ele que me acompanhará nas lutas diárias, reflexo (sem trocadilho) da minha experiência.
E antes que me acusem pelo excesso de clichês, respeitem ao menos os meus cabelos brancos.



Antônio Marcos foi praticamente vizinho da minha família. Morava numa rua próxima ao sobrado que ainda hoje moram meus pais.
Fez sucesso na década de 60, em programas de auditório. Participou da Jovem Guarda, atuou em teatro, cinema e em novela (TV Tupi).
Gravou doze LPs. Seu maior sucesso foi "Como Vai Você", composta em duo, com seu irmão Mário Marcos.
Ironicamente a canção "Quem dá mais", composta por Beto Surian, gravada por Antônio Marcos em 1978, falava sobre a necessidade de saber do futuro. Mais precisamente de um ano específico: 1996. Antônio Marcos morreu em 1992, vítima de complicações resultantes do alcoolismo.

"Eu quero me ver em 1996
Pois eu quero saber como vão ser as coisas por lá
Eu preciso me ver em 1996
E dizer sim ou não aos processos de vida de lá
Outro dia eu sonhei que estava numa arena gigante
Era eu o mais caro objeto vendido em leilão
Gargalhadas soavam por toda essa arena mercante
E eu era um palhaço sem graça vendido em leilão
"

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