Toque de recolher
Dezesseis horas, segunda-feira, quinze de maio de dois mil e seis, recebo uma ordem para ir para casa. Ainda tentei argumentar que meu expediente só terminaria às dezoito, e teria alguns serviços pendentes para finalizar. Em vão.
Dezesseis horas e trinta minutos, saí em disparada. O percurso entre meu trabalho e o prédio onde moro é de dez quilômetros. Neste dia levei duas horas para atravessar esses mesmos dez quilômetros.
Eu e milhares de paulistanos encontramos uma cidade caótica, alardeada pelos atos de violência de uma facção criminosa contra a policia militar e civil metropolitana. E grande parte do alarde, causado pela mídia e pelos boateiros de plantão.
Dentro do carro, em meio ao caos do congestionamento, ligo o rádio na CBN. O comércio da Rua Vinte e Cinco já encontrava-se encerrado.
A linha que a babá utiliza, não liberou ônibus para circular na cidade. Como conseqüência, minha esposa não foi trabalhar para ficar com nossa filha. Do celular a desencorajo de ir ao Shopping. Disseram que iriam atacar alguns shoppings, além de algumas estações do Metrô.
Dezessete horas e alguns minutos, já estava cansado de tanta noticia, troco de estação, 89 FM.
Do retrovisor, ao longe, uma ambulância piscando com a sirene tocando no mesmo ritmo, pede passagem. Não há espaço nesse amontoado de carros.
Lá na frente, carros desrespeitam a placa que indica para não fechar o cruzamento.
Quase dezoito horas. Desligo o rádio. Coloco um CD no play. Já na metade, troco o CD. Ouço as primeiras faixas. Desisto.
Dezoito e trinta ou quase isso, entro na garagem do prédio. Melhor não usar o elevador. São cinco andares.
Completamente exausto, entro no apartamento. Fecho portas e janelas. Desligo a tevê, a geladeira, o micro-ondas...Acendo uma vela.
Lá do quarto ouço um grito: - "Pra que tanto alarme, isso tudo é hoaxe. E apaga essa vela que está com vírus".
X O Dia em que a Terra Parou (Raul Seixas)
N Não verás país nenhum (Ignácio de Loyola Brandão)
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