segunda-feira, dezembro 02, 2002
Jogo de palavras - em dois atos
primeiro ato
O voto deveria ser facultativo, assim como o alistamento militar. Obrigatório mesmo, deveria ser o uso do trema.
Muitas pessoas levantam bandeiras a favor da não obrigatoriedade do alistamento militar. Eu fui um deles. Mas só quando completei dezoito anos. Depois fui brigar por outras causas. Mas a frase: - "Jovem, ao completar dezoito anos aliste-se no serviço militar", ainda faz parte dos meus mais terríveis pesadelos.
Quanto ao voto, não quero jogar no ralo, anos de discussão a favor das "Diretas". Afinal, um país livre é aquele que pode escolher seu presidente. Mas, mais livre é aquele que pode escolher seu presidente, sem a devida obrigatoriedade.
Levantam bandeiras contra o desmatamento, contra a discriminação racial, sexual. A favor da maconha. Pedem para salvarem as baleias, os tamanduás-bandeira, o mico-leão-dourado, as tartarugas marinhas. Mas não há ninguém para defender o uso do trema.
Em 1995, o Congresso Nacional aprovou o texto do "Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa", que propõe a supressão completa do trema.
Dizem que a presença do trema não faz diferença para a nossa pronúncia, sendo por isso praticamente dispensável.
Até no teclado, o sinal foi abolido. Para usá-lo, tenho que recorrer as aspas.
segundo ato
Há pessoas que tem fantasias sexuais estranhas. Ela - por exemplo - sentia profundos arrepios por palavras com trema. Ele, ao descobrir seu ponto fraco (ou forte dependendo do ponto de vista) encaixava sempre uma palavra com trema em seus diálogos:
- Não agüento essa seqüência de seqüestros. Conseqüência de uma sociedade antiqüíssima que forma delinqüentes eloqüentes. Numa freqüência que traz seqüelas intranqüilas....
- Ahhhhhhhhhhhh....para....para....não, não para........Ohhhhhhh.....
Pois é... ele havia exagerado naquela noite.
Ela não se conteve.
Eles estavam numa mesa, num restaurante.
Todas as pessoas presentes no local, inclusive os garçons, foram testemunhas do uso correto do trema.