terça-feira, janeiro 13, 2004



Cinco finais de alguma coisa
# 03 - Blecaute


Parei na contra-mão de uma quarta-feira qualquer. As quartas-feiras são estranhas, pois elas sempre estão no meio da semana. E eu encontrei uma quarta-feira no meio do caminho. Nasci numa quarta-feira. Não era de cinzas, mas era inverno. E o inverno sempre é cinzento.

De qualquer forma parei na contra-mão de uma quarta-feira qualquer, porque o combustível acabou. Até tentei dar a partida e partir, mas me encontrei perdido numa esquina de uma encruzilhada.
Conta a lenda que Robert Johnson teria vendido a alma ao demônio numa encruzilhada, para obter o seu talento e a sua habilidade com o violão. Mas, se ele perdeu a alma, foi para o blues.

E dessa esquina, vejo apenas um poste. Um poste perdido na escuridão, sem luz, sem cartazes colados, sem serventia alguma.
Mas era para ter mais postes por aqui. Essa esquina tão escura precisa de mais postes. E cada poste uma luz. Mesmo que seja amarela, meio apagada. Mesmo que ilumine pouco. Mesmo que seja para perdidos como eu, se apoiarem enquanto a bússola não lhe indicarem a direção.

Escrito numa quarta-feira qualquer do outono de 2002.