domingo, agosto 22, 2004
Paciência tem limite
A empresa Júpiter Media Metrix, especializada em estatísticas do mundo digital, divulgou o ranking dos games de PC mais jogados nos Estados Unidos. Mais uma vez, o vencedor foi Paciência, o entediante e viciante jogo de cartas que vem com o Windows.
Nada menos que 21,3 milhões de americanos jogaram cartas digitais sobre a tela verde em um mês. O site Slashdot, um fórum de discussões cibernéticas, publicou um cálculo interessante a partir desse número. Segundo o texto, se considerarmos que cada um desses jogadores gastou um pouco mais que uma hora por mês jogando - um número conservador - , 24 milhões de horas foram torradas mexendo cartas de um lado para outro (ou 24 milhões de horas-homem foram consumidas). Isso dá um milhão de dias-homem, ou 2740 anos-homem.
O Empire State exigiu sete milhões de horas-homem para ser erguido - meros nove dias de Paciência. Se todos os jogadores de Paciência trocassem as horas de computador por uma atividade mais produtiva, abririam o Canal do Panamá em 26 dias, ou concluiriam o Projeto Apolo, que levou o homem à Lua, em 52 dias.
terça-feira, agosto 17, 2004
Hora Mágica
Carlos Drummond de Andrade
Pés contentes na manhã de março.
Ó vida! Ó quinta-feira inteira!
Pisando a areia que canta, o barro que clapeclape,
a poça d'água que rebrilha.
Há de ser sempre assim, não vou crescer,
não vou ser feito os grandes, apressados,
aflitos, de fumo no chapéu,
esporas galopantes.
O dia é todo meu. E este caminho,
estas pedras, estes passarinhos, este sol espalhado
em cima de minha roupa, de minhas unhas.
Tenho canivete Rodger, geléia, pão-de-queijo
para comer quando quiser.
Descobrir tesouros, bichos nunca vistos,
quem sabe se um feiticeiro, um ermitão,
a ondina ruiva do Rio Tanque.
Igual aos índios. Igual a mim mesmo quando sonho.
Carlos Drummond de Andrade
Pés contentes na manhã de março.
Ó vida! Ó quinta-feira inteira!
Pisando a areia que canta, o barro que clapeclape,
a poça d'água que rebrilha.
Há de ser sempre assim, não vou crescer,
não vou ser feito os grandes, apressados,
aflitos, de fumo no chapéu,
esporas galopantes.
O dia é todo meu. E este caminho,
estas pedras, estes passarinhos, este sol espalhado
em cima de minha roupa, de minhas unhas.
Tenho canivete Rodger, geléia, pão-de-queijo
para comer quando quiser.
Descobrir tesouros, bichos nunca vistos,
quem sabe se um feiticeiro, um ermitão,
a ondina ruiva do Rio Tanque.
Igual aos índios. Igual a mim mesmo quando sonho.
sexta-feira, agosto 13, 2004
...e foram felizes para sempre
As estórias que povoavam o imaginário infantil, recheadas de vilões, bruxos, príncipes e princesas, tinham um enredo repleto de aventura. Com uma ação ininterrupta, capaz de tirar o fôlego e acelerar as batidas do coração da criançada.
Protagonizávamos em nossos sonhos o mocinho, o cawboy, o cavaleiro, o rei, o príncipe, o mosqueteiro. Usávamos capas, espadas, cavalos, combatíamos o mal.
Mas nada me tirava o sono, quanto ao final sombrio de cada estória: - "...e foram felizes para sempre." - pois não há nada mais sombrio que a concepção de felicidade eterna.
E eu ficava sem dormir indagando: "- Como acabou. Depois de enfrentarem tantos perigos, viveriam numa felicidade sem conflitos, sem clímax, numa rotina que consumirá até o fim de seus dias. Mas isso é terrível."
Só as mudanças são eternas. Imagine acordar e saber tudo o que iria ocorrer naquele dia e em todos os dias da sua vida.
Uma vez, ouvi uma lenda de um homem que vivia num paraíso, onde tinha seu descanso eterno. Uma vez cansou de todo aquele enfado e resolveu reclamar: - "Nunca imaginei que o paraíso fosse tão entediante." E teve como resposta: - "E quem te disse que aqui é o Paraíso?"
Shakespeare concluiu sua mais famosa estória com a frase: - "...Nunca houve história mais triste do que esta de Julieta e Romeu." - uma bela estória que fez história, por fugir da estética dos finais felizes.
sexta-feira, agosto 06, 2004
quarta-feira, agosto 04, 2004
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