Hora Mágica
Carlos Drummond de Andrade
Pés contentes na manhã de março.
Ó vida! Ó quinta-feira inteira!
Pisando a areia que canta, o barro que clapeclape,
a poça d'água que rebrilha.
Há de ser sempre assim, não vou crescer,
não vou ser feito os grandes, apressados,
aflitos, de fumo no chapéu,
esporas galopantes.
O dia é todo meu. E este caminho,
estas pedras, estes passarinhos, este sol espalhado
em cima de minha roupa, de minhas unhas.
Tenho canivete Rodger, geléia, pão-de-queijo
para comer quando quiser.
Descobrir tesouros, bichos nunca vistos,
quem sabe se um feiticeiro, um ermitão,
a ondina ruiva do Rio Tanque.
Igual aos índios. Igual a mim mesmo quando sonho.
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