terça-feira, agosto 17, 2004

Hora Mágica
Carlos Drummond de Andrade

Pés contentes na manhã de março.
Ó vida! Ó quinta-feira inteira!
Pisando a areia que canta, o barro que clapeclape,
a poça d'água que rebrilha.

Há de ser sempre assim, não vou crescer,
não vou ser feito os grandes, apressados,
aflitos, de fumo no chapéu,
esporas galopantes.

O dia é todo meu. E este caminho,
estas pedras, estes passarinhos, este sol espalhado
em cima de minha roupa, de minhas unhas.
Tenho canivete Rodger, geléia, pão-de-queijo
para comer quando quiser.

Descobrir tesouros, bichos nunca vistos,
quem sabe se um feiticeiro, um ermitão,
a ondina ruiva do Rio Tanque.
Igual aos índios. Igual a mim mesmo quando sonho.

Nenhum comentário: