sexta-feira, agosto 13, 2004



...e foram felizes para sempre

As estórias que povoavam o imaginário infantil, recheadas de vilões, bruxos, príncipes e princesas, tinham um enredo repleto de aventura. Com uma ação ininterrupta, capaz de tirar o fôlego e acelerar as batidas do coração da criançada.

Protagonizávamos em nossos sonhos o mocinho, o cawboy, o cavaleiro, o rei, o príncipe, o mosqueteiro. Usávamos capas, espadas, cavalos, combatíamos o mal.

Mas nada me tirava o sono, quanto ao final sombrio de cada estória: - "...e foram felizes para sempre." - pois não há nada mais sombrio que a concepção de felicidade eterna.

E eu ficava sem dormir indagando: "- Como acabou. Depois de enfrentarem tantos perigos, viveriam numa felicidade sem conflitos, sem clímax, numa rotina que consumirá até o fim de seus dias. Mas isso é terrível."

Só as mudanças são eternas. Imagine acordar e saber tudo o que iria ocorrer naquele dia e em todos os dias da sua vida.

Uma vez, ouvi uma lenda de um homem que vivia num paraíso, onde tinha seu descanso eterno. Uma vez cansou de todo aquele enfado e resolveu reclamar: - "Nunca imaginei que o paraíso fosse tão entediante." E teve como resposta: - "E quem te disse que aqui é o Paraíso?"

Shakespeare concluiu sua mais famosa estória com a frase: - "...Nunca houve história mais triste do que esta de Julieta e Romeu." - uma bela estória que fez história, por fugir da estética dos finais felizes.

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