sábado, dezembro 25, 2004



Jesus, um nordestino
(Diógenes da Cunha Lima)

Eu penso que Jesus devia de nascer em Belém, na Paraíba.
Sim, em Belém, perto de Guarabira e vizinho de Pirpirituba. E se não bastasse a vizinhança a indicar a rima e o caminho, perto de Nova Cruz.

Era filho caçula de dona Maria, mulher dona de beleza e que germinava bondade nas pessoas.

Era menino moreno, muito esperto, embalado em rede de algodão cru. Tinha sandálias com currulepo entre os dedos e cajus, em dezembro, a matar a sede.
E seu pastor fora um vaqueiro nordestino, de gibão e perneira e guarda-peito, para livrar as suas carnes da Jurema.

Vieram adorar o Deus-Menino os santos reis entrelaçados de bom jeito: um negro, um índio e um branco português.

Seria fácil encontrar espinhos, para coroar a fronte de de Jesus, e um pau de arara em São José do egito para levá-lo, retirante, para São Paulo.
Um santo feito para as grandes secas!

Meu Deus, meu Deus, por que nos abandonaste, exclamaria enquanto repartia com o povo nu as suas vestes, multiplicadas como pães ou peixes.

Quando criança, o Jesus da Paraíba era carpinteiro como seu pai, fazendo caixões azúis para os anjos do lugar. E proezas num cavalo de pau. Sim, num cavalo de pau, pois seu jumento era muito magro e nem servia para carne de jabá.

Jesus era um menino desnutrido a fazer o bem, desnutrido como os outros da região, onde as coisas só vão na base do milagre ou da força parida da vontade.

Eu penso que Jesus devia de nascer em Belém, na Paraíba!

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