domingo, março 30, 2003
Há alguns anos num fórum de discussão, foi publicada a seguinte questão:
Ao longo dos anos, algumas pessoas que cometeram crimes ou se suicidaram, insinuaram que suas ações estariam sendo praticadas sob a influência de músicas de vários artistas, notadamente os grupos de Heavy e Death Metal.
No mais recente destes casos, a família de uma adolescente assassinada por três outros adolescentes que se drogavam e ouviam músicas da banda Slayer que tinha instruções para matar, estuprar e praticar necrofilia, processou a banda e sua gravadora afim de culpá-las pelas ações dos três adolescentes.
Este caso vem reacendendo a discussão censura x liberdade de expressão x influência da cultura de massa, colocando em questão seus benefícios e malefícios.
Pergunta-se: você, por exemplo, já se deixou influenciar pela letra de alguma música? Se sim, qual? O que isto lhe causou? Se não, você acha que artistas podem ser culpados por escreverem músicas passando mensagens ruins, satânicas? Até que ponto você acha isso positivo ou negativo?"
No divã
Uma das primeiras canções que ouvi na vida, fora fundamental para que eu passasse a sentir medo, um sentimento que até então desconhecia. O pior é que essa canção era cantada por uma pessoa que representava para mim, a vértice da proteção. Não me lembro da letra inteira, mas em algum verso era explicito o abrolhar do temor: "Boi da cara preta, pega essa criança que tem medo de careta...". A partir de então passei a ter medo do boi, da cara preta, das tias e avós que me apertavam as bochechas.
Depois do medo, a cólera. Passei a abominar todos os tipos de animais: passarinhos, papagaios, tartarugas, cachorros e gatos. Todos os animais de estimação eram alvos dos meus baques. Tudo por influência de uma canção que ouvia na época: "Atirei o pau no gato-to, mas o gato-to, não morreu-reu-reu....".
Nessa mesma ocasião, passei também a sentir um grande desejo em envenenar alguém, e treinava no espelho olhares de inocência, para que ninguém me considerasse culpado. A canção que me inspirava era: "Lá em cima do piano tem um copo de veneno, quem bebeu morreu, o culpado não fui eu.".
Teve também as canções que me fizeram ver que jamais eu teria um amor de verdade. Presentes duradouros estariam ligados a proporção do amor sentido, ou seja, se eu desse um presente barato, que se quebraria com facilidade, meu amor seria pequeno: "O anel que tu me destes era vidro e se quebrou, o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou...". E se eu me envolvesse numa relação, sairia machucado: "O cravo brigou com a rosa, debaixo de uma sacada. O cravo saiu ferido e a rosa despedaçada.".
Nas quermesses, eu ouvia canções de casamentos desfeitos: "Com a filha de João, Antonio ía se casar, mas Pedro fugiu com a noiva, na hora de ir para o altar." E canções de tragédias: "Cuidado para não se queimar, olha que a fogueira já queimou o meu amor...".
Nos bailes de carnaval aconteciam fatalidades: " Oh! Jardineira por que estas tão triste? Mas o que foi que te aconteceu ? - Foi a Camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu".