quarta-feira, outubro 08, 2003

Teriam os ponteiros esquecido do tempo?

"Corre o fim da primavera e o início do verão de 1905. Em Berna, cidade suíça à sombra dos Alpes, pacata e sistemática como um relógio, vive um jovem de 26 anos chamado Albert Einstein. Esse pequeno funcionário do Escritório Suíço de Patentes vem tendo sonhos perturbadores, todos eles ligados aos mistérios do tempo e do espaço. Num deles, por exemplo, o tempo transcorre todo num único dia - nascimento, vida e morte. Noutro, não existe futuro, a vida reduzindo-se à fixidez das estátuas. Noutro, ainda, o tempo ganha três dimensões, como o espaço, e faz com que as pessoas vivam três versões diferentes e simultâneas de suas vidas".
(Sonhos de Einstein, de Alan Lightman)

Nunca gostei de relógios. Não uso relógio de pulso. Há tempos não coloco pilhas num relógio em formato de CD, na cabeceira da minha cama. Mas por onde quer que eu ande, as horas o denunciam: o tempo não pára.

Queria poder parar o tempo. E muitas vezes quando criança, imaginava ter esse poder: de parar o tempo. Imaginava todas as pessoas imóveis, feitos estátuas, os ponteiros dos relógios inertes. E durante esse tempo, ou a ausência dele, poder fazer tudo o que quisesse ou pudesse. Seria minha carta de alforria.

Somos todos escravos do tempo: hora para acordar, dormir, comer, trabalhar, estudar, divertir... e eu que nunca fui pontual, sou considerado transgressor do tempo.

Quantas e quantas vezes cheguei atrasado no trabalho, na faculdade, num encontro qualquer. Sim, eu confesso, não tenho uma pontualidade britânica, não possuo nada dos britânicos, a não ser alguns cds de bandas britânicas, como Beatles, Rolling Stones, Sex Pistols, Radiohead e o Oasis (que estou começando a gostar).

Já cheguei atrasado quase uma hora num encontro. Me atrasei alguns minutos num concurso, em que o porteiro da faculdade gritava: "- Corre Brasil!" Me atrasei meia hora numa importante entrevista. Mas mesmo com toda essa minha insensatez, me dei bem nesses três episódios: fiquei com a garota, passei no concurso e ganhei a vaga.

Mas nem sempre pode-se parar o tempo (pelo menos o tempo real). Pudesse eu vestir uma camiseta com a palavra "pause" estampada, e subir no telhado por algum tempo.

"Há um lugar em que o tempo fica parado. Pingos de chuva permanecem inertes no ar. Pêndulos de relógios estacionam no meio de seu ciclo. Cães empinam seus focinhos em uivos silenciosos. Pedestres estão congelados em ruas poeirentas, suas pernas erguidas como se amarradas por cordas. Os aromas de tâmaras, mangas, coentro, cominho estão suspensos no ar".


P.S. "Sonhos de Einstein", de Alan Lightman, é o meu livro de cabeceira n° 2.
Meu livro de cabeceira n° 1 é aquele que eu ainda não li.